| | |

Guia do Cão - Portal informativo sobre cães, gatos e outros animais.

Condições de utilização

Como poupar dinheiro no veterinário (e conseguir um tratamento eficaz)

Por: Alexandre Teófilo Branco Pappamikail


Sei que parece aparentemente impossível, mas não o é. Se vai ler isto, vai mesmo ter acesso directo ao que se passa na cabeça de muitos veterinários. Prepare-se para um discurso franco, honesto, sério, e politicamente incorrecto. 



 - Será que eu devo mesmo ter um cão? 

 Essa é a primeira questão, e que só pode ser respondida pelo próprio. Tenha bem presente que a partir do momento que adquire ou adopta um animal, se torna responsável pelo seu bem-estar e saúde, durante um período que pode ultrapassar os 15 anos. Sim, ele é giro, fofinho, e brincalhão enquanto cachorro, mas vai chegar uma altura em que ele vai envelhecer e vai começar a ter doenças da velhice que necessitam de ser tratadas. Pense bem no tipo de cão que pretende ter e na sua raça. Sabem quantas consultas eu tive desde que comecei a trabalhar com futuros donos que me procuraram ANTES de terem escolhido o cão? Apenas uma. 


 - Mas ter um cão é um direito! 

Não, não é. É um DEVER para com outro ser vivo pelo qual nos responsabilizamos, perante a sociedade e perante a lei. Independentemente das dicas que eu ou outros veterinários lhe dermos, ter um animal vai sempre ter custos associados. Faz a mais pequena ideia dos custos anuais de vacinas e desparasitações? Faz ideia do que é um seguro de saúde para o cão, e é capaz de distinguir um bom seguro de saúde de um mau? Se você não tem uma folga financeira mínima de uns 150-200€ por ano (ou se tem mesmo de ter aquele cão de raça que lhe vai custar uns 500€, mas acha que gastar 150€ num veterinário é um roubo), então devia voltar a ler o primeiro item, e provavelmente comprar um Tamagotchi. 


 - Escolher bem o cão que eu quero ter 

Os cães têm diferenças no temperamento, no aspecto físico, e na tendência que têm para desenvolver determinadas doenças. Um cão não é um acessório de moda. Antes de escolher uma raça, consulte o Dr. Google para todas as doenças próprias de uma raça. Consulte mais do que uma fonte de informação. Informe-se sobre o temperamento de um cão, para evitar surpresas desagradáveis. Está surpreendida por um Jack Russel lhe ter escavado o jardim? Se sim, é porque não fez o trabalho de casa. Pondere seriamente visitar um canil e adoptar um cão abandonado – quem adopta, por norma recebe um companheiro agradecido para o resto da vida. Se ainda assim quiser mesmo um cão com predisposição para determinadas patologias, não se queixe quando ele adoecer e tiver de pagar a conta do veterinário. 


 - Vacinas, vacinas, vacinas… e desparasitações 

As vacinas previnem uma série de doenças, e representam uma óptima oportunidade para um veterinário examinar um cachorro. A maioria dos veterinários cobram pouco mais do que o valor de uma consulta por uma vacina. Sabia que o custo de uma vacina+reforço para evitar parvovirose custa apenas entre 5-20% do custo de internamento para tratar um cão que desenvolva a doença? Escolha bem o criador do cachorro… se visitou o criador e não gostou de alguma coisa, siga o seu instinto porque provavelmente ele está correcto. As desparasitações e coleiras repelentes também entram no mesmo esquema: em saúde animal, sai sempre mais barato prevenir que remediar. 


 - Mas ele tinha uma vacina, e mesmo assim ficou doente!!!

 Verifique se a vacina foi mesmo administrada, e se por um veterinário (se o foi, deverá ter assinatura, carimbo ou vinheta que identifique o veterinário). Se a vacina foi dada pelo criador, saiba que a maioria dos veterinários considera que a vacina simplesmente não foi administrada. Em segundo lugar, as vacinas fazem com que o seu cachorro produza anticorpos vacinais: não garantem que ele não fique doente, mas garantem no mínimo que ele não vai ficar tão doente como ficaria. Vacinar será sempre mais barato que tratar a doença. Se poupou nas vacinas, perdeu o direito a queixar-se do valor da conta quando o seu cão adoecer com uma doença evitável pela vacinação. Lamento, mas é a verdade. 


 - Há bocado, falou sobre seguros de saúde… deveria fazer um para o meu cão? 

Provavelmente deveria. Há seguros de saúde interessantes, e outros que na minha opinião têm pouca utilidade. O tipo de seguros que eu recomendo, são seguros de saúde que comparticipam as despesas de internamento, cirurgia, exames, com base na emissão de um relatório médico. Não costumo recomendar seguros que comparticipam aparentemente tudo e que depois têm lacunas “escondidas”. O que lhe interessa é ter uma boa ajuda caso aconteça algo imprevisível. Por outro lado, pense no seguinte: as seguradoras não estão nisto para perder dinheiro, e funcionam com base no facto de que nem todos os animais segurados vão adoecer gravemente. Se arranjar um seguro muito baratinho, provavelmente o apoio também será menor. Informe-se bem junto da seguradora e junto do seu veterinário assistente, para ver se vale a pena. 


 - A entrevista ao dono: “Olhe doutor, tudo começou há 14 anos ainda este cão era cachorro, quando ele deu um arroto e toda a gente se riu lá em casa, blablabla…” 

E eu só perguntei em que é que podia ser útil… Pense no seguinte, o objectivo da entrevista ao dono antes do exame físico, não é pôr a conversa em dia, é para me direccionar e para eu saber o que devo procurar e que possa explicar a queixa do cliente. Eu retiro mais informação de um discurso sucinto e organizado de 5 minutos, do que de um discurso disperso que dura 2 horas. Se eu não oiço algo importante, ou caso o dono fale de tudo menos do que me interessa - que é a doença do cão -, eu provavelmente vou ter de obter a informação por via de exames auxiliares, que são pagos. Repararam no blablabla? É o meu cérebro a entrar em modo “standby”. Conversa de circunstância é para depois do problema estar diagnosticado e de o cão estar tratado.


 - “Olhe doutor, não sei o que ele tem, mas anda estranho/ Quem trata do cão é a minha mulher, eu não sei de nada, ela pediu-me para o trazer” 

Isto é o terror de qualquer veterinário: “ele anda estranho”, “anda diferente”. Sabem o que é que isto quer dizer para um veterinário? Não diz absolutamente nada. Se é isto que dizem a um veterinário, saibam que o que lhe estão a dizer na verdade é “Olá, quero que saiba que não o vou ajudar absolutamente nada a tentar perceber o que se passa, e que vou ter de deixar que as análises sanguíneas, radiografia e ecografia falem por mim”. 


 - “Olhe doutor, ele tem diarreia com sangue, começou hoje… está vacinado e desparasitado, não lhe dei ossos, e só come ração da marca XPTO…. Ele toma os comprimidos XYZ para um problema diagnosticado há alguns anos” 

Viram a diferença? Antes de entrarem na sala de consultas, façam um jogo mental: procurem resumir tudo o que se passa em três frases, que contenham o máximo de informação. Depois de ter a certeza que o veterinário reteve essa informação, ficam com a garantia que o ajudaram a ajudar-vos a tratar o cão e a poupar o vosso dinheiro. Um bom veterinário começa por eliminar metodicamente os potenciais problemas mais prováveis, e depois passa para as doenças mais raras. Ao fazê-lo, está a ser seu amigo porque lhe está a poupar dinheiro. Quem lhe vai dizer o que é provável ou não, muitas vezes é o dono. 

 Se um veterinário despistasse todas as doenças possíveis, por muito raras e improváveis que fossem, gastaria em média uns 400-500€ por consulta (que não é obviamente o custo final médio de uma consulta). A diferença entre o que podia ser e o que é na realidade, é o quão competente e seu amigo o seu veterinário assistente é.


Leia também:

Apoios institucionais


Creative Commons License

Guia do Cão © by OneGlobalHealth Consulting is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.